terça-feira, 10 de maio de 2016

Desmontando o quarto de solteira

Minha mãe resolveu fazer uma obra na casa dela, o que coincidiu com nossa viagem a Ouro Preto. Um dia, voltando de um passeio, ela me ligou.
- Filha, posso desmontar seu quarto de solteira? Precisava mexer no piso da casa...
Respirei fundo e disse
- Pode
Só que naquela hora eu não tinha ideia do tamanho da ficha que ia cair na minha cabeça.
Primeiro porque, como ela não tinha lugar para por minhas coisas, ela encaixotou e ensacolou tudo e pôs na minha sala. Quando cheguei de viagem não dava para passar! Ó só que presentão, que recepção!
E segundo porque era o meu quartinho. O meu cantinho lindo, meu refúgio, que eu cuidava como minha joia preciosa, meu lugar preferido no mundo. E a ficha não caiu até hoje porque eu não quero pensar que nunca mais o verei.
Fecho os olhos e me imagino nele. Nem acredito que ele acabou... Que nunca mais estarei nele, com suas paredes cor de pétala.
O que fazer?... O que fazer?...
Com cuidado, procurei uma menininha para quem eu pudesse doar minha cama, abajur, penteadeira... Uma linda, educada e esperta menina de 8 anos, filha de uma amiga da minha mãe, recebeu as coisas do meu pedacinho do céu, agora despedaçado.
E eu tinha na minha sala um monte de coisas para dar cabo. E que eu não sabia que não se encaixavam mais na minha vida. Enquanto elas estavam lá, faziam sentido, eu achava que tinham serventia e pareciam até novas. Quando as vi em caixas e sacos de lixo preto de 200 litros eu vi o que elas eram realmente: coisas.
Acho que esse foi o terceiro parto que eu sofri: o primeiro, quando vim ao mundo. O segundo, quando entrei na igreja para me casar. O terceiro, quando minha mãe me entregou todas as minhas coisas que estavam na casa dela.
De uma certa forma dou Graças a Deus por eu não precisar ter passado por aquilo, de tirar cada peça do lugar... Iria ser muito sofrimento. Só tenho uma frustração: de não ter me despedido, de não ter tirado fotos... Meu quartinho desde os meus 10 anos de idade, branco, lindinho, que eu pintei as paredes, onde eu sonhava com o futuro que hoje é o meu presente, onde eu sofri por todas as coisas da vida... Saudades...

Fazer o que? Eu cresci, não teve outro jeito.


Um comentário:

  1. Pois é, eu fui desmontando o meu aos poucos e levando o que precisava pra casa nova, confesso que ainda tenho umas bonecas encaixotadas rs

    Bjus
    Taty
    Na Casa dos Abrantes
    Canal

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